quarta-feira, 11 de abril de 2012

Margens afectadas

Tenho recebido questões de leitoras apreensivas com o resultado do exame anátomo-patológico das peças de conização. As preocupações resultam do facto de existirem margens “afectadas”, “comprometidas” ou “positivas” e a principal dúvida das doentes é se isso constitui uma indicação para a remoção do útero (histerectomia).
Para um ginecologista delinear uma conduta clínica ajustada a cada doente é necessário ter em conta diversas variáveis: idade da doente, antecedentes pessoais, patologia associada, projecto reprodutivo, capacidade/vontade da doente em cumprir um programa de vigilância clínica rigorosa, diagnósticos iniciais da citologia e biópsia do colo que motivaram a conização, aspectos observados durante a colposcopia antes e após a conização, outras características microscópicas da lesão,... É importante perceber o tipo de lesão presente na margem, por exemplo, numa conização por CIN3 (lesão de alto grau) as margens podem conter CIN1 (lesão de baixo grau) ou inflamação crónica sem displasia. É fulcral saber qual a margem afectada: tendo em conta que a peça tem a forma de um cone com o vértice arredondado, a margem atingida pode ser a exocervical, radial (lateral) ou endocervical (profunda).
As opções perante uma margem afectada são: repetição da conização, vigilância clínica rigorosa com repetição da citologia e/ou biópsias e realização de uma histerectomia. Note-se que a remoção do útero não erradica a possibilidade de a doente vir a sofrer de lesões graves provocadas pelo vírus do papiloma humano já que este agente também afecta a vagina e a vulva. Esta intervenção está indicada, por exemplo, nos casos em que o colo, após uma ou mais conizações, torna-se anatomicamente inadequado para uma vigilância colposcópica segura.
Por fim deixo a mensagem de que a actuação clínica deve ser individualizada em função das características de cada mulher, sendo imprescindível esclarecer cabalmente a doente acerca do diagnóstico e do plano terapêutico proposto.