segunda-feira, 14 de maio de 2012

Episiotomia

A episiotomia é uma intervenção obstétrica que consiste no corte do períneo posterior para facilitar o nascimento. Os seu objectivos são a prevenção das lacerações perineais extensas e complicadas, da incontinência urinária e fecal e do prolapso de órgãos pélvicos. Hoje em dia os diversos estudos publicados sugerem que este procedimento não deve ser efectuado por rotina mas sim criteriosamente, em função das características de cada parto. A realização da episiotomia e subsequente sutura (episiorrafia) requerem adequada anestesia local ou analgesia epidural. A incisão é feita com uma tesoura e o médico ou o enfermeiro utilizam os dedos da mão contrária como guia do corte e protecção do feto. Salvo raras excepções, é executada quando a cabeça ou a pelve do bebé começam a distender o períneo, o que minimiza a perda sanguínea. O ponto de partida do corte é a fúrcula (ponto posterior da vulva) e, a partir daqui, a orientação do corte pode ser vertical em direcção ao ânus (episiotomia mediana) ou diagonal, a 45 graus para a direita ou para a esquerda (episiotomia médio-lateral). A primeira técnica é mais fácil de suturar, acarreta menor dor pós-parto, menor hemorragia e melhores resultados anatómico e cosmético, contudo, está muito associada a lacerações do ânus e do recto. A segunda técnica é a mais praticada em Portugal, precisamente para evitar as referidas complicações da primeira. A episiorrafia é feita com fios de sutura absorvível, frequentemente requer anestésico local adicional e, independentemente das técnicas utilizadas, implica a correcção do corte em três planos: 1º - desde o vértice da vagina até ao anel himeneal; 2º - fibras musculares; 3º - desde o anel himeneal até ao vértice cutâneo mais distal. Neste último plano pode também ser empregue cola biológica. As complicações da episiotomia/episiorrafia são: dor pós-parto; dor nas relações sexuais; hemorragia significativa; hematoma do períneo e ulterior necessidade de drenagem; infecção; deiscência (abertura dos pontos) e eventual desbridamento e ressutura; fístulas; problemas cosméticos/funcionais como a fibrose dos tecidos e a assimetria da vulva. (Imagens: http://en.wikipedia.org/wiki/Episiotomy; http://helid.digicollection.org/en/d/Js3015e/9.16.html)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O pai e o parto

A presença do pai durante o trabalho de parto é comum. O propósito é nobre: acompanhar e apoiar a grávida, assistir ao nascimento e, desde logo, estabelecer uma ligação ao recém-nascido. Eu próprio estive ao lado da minha mulher em ambos os partos e, ao longo da minha carreira, tenho observado homens que se comportam impecavelmente na sala de partos: encorajam as parceiras, veiculam reforços positivos, colaboram com as equipas médicas e cuidam do bebé nos primeiros minutos de vida. Contudo, existem homens que se sentem desconfortáveis durante todo o processo e preferiam não estar naquele lugar, naquele momento. Porque estão? Julgo que o motivo reside no facto de, actualmente, existir uma “obrigação” social nesse sentido. Vários manuais da grávida, portais electrónicos, cursos de preparação para o parto, revistas, jornais, médicos, enfermeiros e parturientes exortam à presença do pai e, não raras vezes, nas maternidades, aqueles que expressam a vontade de sair, são olhados de lado e alvo de comentários depreciativos. Em minha opinião, não estar presente durante o trabalho de parto nem assistir ao nascimento não torna o parceiro menos solidário, companheiro, íntimo nem, em última análise, menos pai. Não se trata de um exercício em que cada um avalia a sua capacidade de resistir à visão da dor, do esforço físico, do suor e do sangue. Não é uma competição para aferir a masculinidade, qual rito iniciático. A presença contrafeita, para além de não atingir os objectivos preconizados, pode surtir efeitos perniciosos. A fraca motivação conduz à baixa tolerância para o que está a decorrer que, por sua vez, leva a atitudes negativas face aos profissionais de saúde e à grávida. Recordo-me de alguns casos em que pais, contrariados, assistiram ao parto e sentiram-se mal, verdadeiramente mal, chegando a perder a consciência e necessitar de cuidados médicos. Existem também trabalhos que demonstram as consequências negativas sobre a sexualidade dos casais cujos homens assistiram ao parto nestas circunstâncias. Longe vai o tempo em que o homem aguardava lá fora e, nervosamente, fumava e bebia até receber a notícia do nascimento. Mas não podemos coarctar a liberdade individual de cada homem para, em consciência, decidir se quer ou não estar presente.