quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Cancro ginecológico V – Ovário


O cancro do ovário é um tema de elevada complexidade. O risco, à nascença, de uma mulher vir a ter cancro do ovário é de 1,0-1,5%. A doença tanto pode afectar crianças como adultas e idosas. Trata-se da neoplasia maligna do aparelho reprodutor feminino com maior letalidade, isto é, uma elevada proporção de mulheres afectadas acaba por falecer desta patologia pois não existem sintomas específicos nem exames de rastreio com adequada relação custo:benefício.
Cerca de 90% dos cancros do ovário são epiteliais (serosos, mucinosos,…). O seu pico etário localiza-se entre os 56 e 60 anos. A obesidade e não ter filhos são alguns dos factores de risco enquanto a toma da pílula contraceptiva estroprogestativa e a remoção das trompas são factores de protecção. As queixas iniciais são vagas: irregularidade menstrual, dor pélvica, aumento do número de micções, obstipação, distensão abdominal,… Numa fase avançada os sintomas derivam da ascite e de metástases abdominais ou torácicas. A observação médica pode detectar uma massa pélvica. Os exames mais habituais são análises laboratoriais incluindo marcadores tumorais e ecografia pélvica que avalia características sugestivas de malignidade. A TC e a ressonância magnética podem ser pedidas caso se justifique. O diagnóstico definitivo é feito durante a cirurgia quando a massa é enviada para o laboratório de anatomia patológica. O objectivo cirúrgico é a ausência de tumor residual e implica remoção de todas as zonas suspeitas e biopsias múltiplas. O tratamento complementar mais relevante é a quimioterapia. Um grupo importante de tumores é “borderline” (baixo potencial maligno), fica confinado ao ovário durante muito tempo e tem melhor prognóstico.
Os cancros do ovário hereditários representam 5-10% dos cancros epiteliais e podem associar-se ao cancro da mama e ao cancro hereditário não polipóide do cólon (HNPCC). As mulheres com risco familiar acrescido devem ser enviadas a uma consulta específica.
Por fim, o ovário também é sede de metástases de cancros noutros órgãos como a mama e o aparelho digestivo.
(Imagem: http://physictourism.com/medical/cancer-therapy/ovarian-cancer-symptoms-treatment)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cancro ginecológico IV - Vulva


O cancro vulvar é raro e representa apenas 3-5% de todas as neoplasias malignas do aparelho reprodutor feminino. Tendo em conta a sua baixa incidência é boa prática, a nível nacional, remeter as doentes para centros de referência como é o caso do Instituto Português de Oncologia em Lisboa.
O carcinoma pavimento-celular (CPC) é o mais frequente (>90%), podendo ser dividido, em função da sua génese, em dois tipos: basalóide (associado ao vírus HPV e ao tabagismo) e queratinizante (independente do vírus HPV). As mulheres com CPC vulvar têm, em média, 65 anos de idade (15% tem menos de 40 anos). Os grandes e pequenos lábios são o ponto de origem em 60% dos casos. A disseminação é feita por extensão directa às estruturas adjacentes como o ânus e a uretra, por via linfática e através da corrente sanguínea.
A maioria das mulheres não apresenta queixas numa fase inicial. Em caso de doença sintomática ocorre comichão, dor, desconforto, dor ao urinar ou a ter relações sexuais; a doente pode também notar um nódulo ou úlcera sobre os genitais externos ou gânglios aumentados na virilha.
Numa fase avançada é fácil o diagnóstico de cancro vulvar. Em estádios precoces não existem lesões que possam ser consideradas “típicas” e, sempre que há essa suspeita, deve ser efectuada uma biópsia; trata-se de um procedimento simples de executar sob anestesia local num consultório de Ginecologia.
No estádio I (tumor confinado à vulva e < 2 cm) a sobrevida aos 5 anos é de 98% e no estádio II (tumor confinado à vulva e > 2 cm) é de 85%. O factor de mau prognóstico mais importante é o envolvimento de gânglios linfáticos.
Sempre que possível o tratamento deve ser cirúrgico. A radioterapia está indicada em lesões avançadas; após a cirurgia para tratar gânglios afectados; quando não há margens cirúrgicas de segurança. A quimioterapia é usada em lesões avançadas. O apoio psicológico é importante pois a cirurgia vulvar afecta profundamente a auto-imagem.
(Imagem: http://www.gynpain.com/29.html)