quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Infertilidade IV – Espermograma


O espermograma é um exame básico estudo da infertilidade e consiste na análise laboratorial do esperma. A colheita é feita por masturbação, precedida de 2 a 7 dias de abstinência de ejaculações. A recolha deve incluir todo o líquido para um recipiente apropriado. É importante que o homem não se sinta embaraçado em relatar qualquer perda acidental. A obtenção do produto é feita no laboratório. Excepcionalmente, pode ser realizada no domicílio, garantindo-se o transporte em condições adequadas (entrega em menos de 1 hora e temperatura entre 20 a 37 ºC). Frequentemente é necessário repetir a análise antes de se fazer determinado diagnóstico. A espermocultura determina se há bactérias no esperma; implica urinar primeiro, lavar bem as mãos e o pénis e ejacular para um frasco esterilizado.
A análise macro e microscópica do esperma é um processo complexo e envolve inúmeros parâmetros. A Organização Mundial de Saúde publicou em 2010 um manual com linhas de orientação referentes ao espermograma. As principais características avaliadas são: volume do esperma (> 1,5 mL); concentração de espermatozóides (> 15 milhões/mL); mobilidade progressiva (> 32%); e formas normais (> 4%). Os valores de referência, colocados entre parêntesis, dizem respeito ao percentil 5 dos homens cujas mulheres engravidaram em 12 meses de relações sexuais frequentes e sem método contraceptivo. Os valores medianos da população (percentil 50) são mais elevados. Os achados patológicos são descritos com termos complexos: oligozoospermia – poucos espermatozóides; astenozoospermia – espermatozóides lentos; teratozoospermia – espermatozóides anormais; azoospermia – ausência de espermatozóides no ejaculado.
É fundamental que o homem realize esta análise num centro que cumpra os exigentes critérios laboratoriais, aconselhando-se junto da equipa médica e de enfermagem que acompanha o casal infértil.
(Imagem: http://www.drmalpani.com/images//sperm.jpg)

Infertilidade III – Histerossalpingografia


A histerossalpingografia (HSG) é um exame radiológico que assume um papel importante na Medicina da Reprodução pois permite avaliar a morfologia da cavidade uterina e se as trompas de Falópio estão permeáveis. A HSG pode ser útil noutras áreas como o estudo da morte fetal/abortos de repetição e a confirmação da obstrução tubária após colocação de dispositivo intratubário. Para além do seu valor diagnóstico, a HSG tem potencialidades terapêuticas: libertação de pequenas obstruções uterinas e das trompas; melhoria das propriedades do muco cervical e da camada de revestimento das trompas; e eliminação de algumas bactérias.
O exame é geralmente programado para a semana seguinte à menstruação. A doença inflamatória pélvica, a alergia ao contraste iodado e a gravidez são contra-indicações absolutas. A mulher não deve estar em jejum e é pré-medicada com um analgésico. Durante o procedimento a doente fica deitada de costas com as pernas afastadas e os joelhos flectidos. O médico desinfecta os genitais externos, introduz um espéculo, desinfecta a vagina, coloca uma pinça no colo do útero e introduz o cateter no orifício externo do colo. Em seguida é removido o espéculo e a doente pode estender as pernas ao longo do corpo. Durante a introdução do contraste pelo cateter, são obtidas imagens radiológicas em tempo real (fluoroscopia). Ao longo do exame o ginecologista dá indicação para a captura de imagens que poderão ser impressas numa película ou armazenadas em suporte informático. Nalguns casos pode ser solicitada a inclinação lateral do tronco. A doente deve tentar permanecer tranquila para não comprometer a qualidade das imagens. De um modo geral a HSG é desconfortável mas tolerada pela maioria das doentes. Consoante o protocolo de cada instituição a mulher poderá ser medicada com um antibiótico antes ou após o exame.

Questão: Estou a ser seguida no Hospital de Santa Maria porque não consigo engravidar (...) Fiz uma histerossalpingografia em Dezembro. Disseram-me que tinha as trompas permeáveis mas com retenção. O que significa isso? (Susana, Odivelas)

Resposta: A sua questão tem bastante pertinência. Cerca de 15 minutos após a realização da histerossalpingografia (HSG), exame descrito na última edição do Jornal de Odivelas, é usual a obtenção de uma radiografia simples em pé da cavidade pélvica. Essa película é detalhadamente observada e, entre outros aspectos, procura-se identificar meio de contraste, que é radiopaco, retido nas trompas de Falópio. A sua presença manifesta-se pela existência de uma imagem filiforme, hipotransparente que delineia o trajecto das trompas. Trata-se de um achado anómalo na medida em que uma HSG normal pressupõe a saída do líquido de contraste das trompas e respectiva constatação na radiografia simples em pé. A retenção de contraste associa-se a um risco acrescido de gravidez ectópica. Assim, tendo em conta as expectativas do casal, os antecedentes obstétricos e outros elementos da entrevista clínica, a observação médica, os resultados dos demais exames e outros dados da HSG, a equipa médica e o casal devem discutir as opções terapêuticas e a conduta a adoptar.

(Imagem: http://www.szote.u-szeged.hu/radio/emlo/emlo8c.gif - Exame normal; as setas apontam para as Trompas de Falópio)